O Teatro vem à Escola Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

O Teatro de Ensaio Raul Brandão (TERB) – Círculo de Arte e Recreio, que encena peças importantes baseadas em obras literárias incluídas no Plano Nacional de Leitura, esteve na nossa escola, no passado dia 03 de março, a representar o “Auto Barca do Inferno”, de Gil Vicente, para as turmas do 9.º
ano de escolaridade.
A peça de teatro foi muito bem representada, por excelentes atores, muito expressivos e com vozes incríveis. O jovem público, que assistiu ao espetáculo teatral no pavilhão da escola (sala de espelhos), manifestou o
apreço pelo trabalho daqueles e, no final, aplaudiu-os vivamente.
Sobre a obra “Auto da Barca do Inferno”, o cenário é uma espécie de
porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao Inferno,
comandada pelo diabo, e a outra com destino ao Paraíso, comandada por um Anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao Paraíso ou ao Inferno. A peça encenada mostra-nos um pouco sobre como é a vida quotidiana em que vivemos.
Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra
oscila entre os seus valores morais de duas épocas: ao mesmo tempo que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, também está
religiosamente voltada para a figura de Deus, que é uma característica
medieval. A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é
“rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade”. A obra tem, portanto, um
valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais do seu tempo, que poderia haver um mundo melhor, em que todos seriam melhores. Mas, é um mundo idílico, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.
Numa apreciação mais pessoal, considerei a peça de teatro muito bem
dramatizada, com excelentes atores, com vozes expressivas incríveis e foi
visível que a história foi bem concebida e trabalhada.
Penso que é importante realçar que realizar as peças nas escolas é
também um modo de sair da sua zona de conforto, tendo em conta que nunca sabem as condições que os esperam. O que notei é que os atores acabam por ver essa experiência como uma mais-valia, pois isso significa novas vivências e desafios.
O facto de poder experienciar a minha primeira peça de teatro, enquanto
parte da equipa do Círculo de Arte e Recreio, na Escola B/S Arqueólogo Mário Cardoso, onde estudei do 5.º ao 9.º ano, deu-me um certo conforto e uma maior vontade de continuar a trabalhar e a valorizar o meu progresso e a minha história de vida.

Adriana Costa (Ex-aluna da Escola B/S Arqueólogo Mário Cardoso e
Estagiária de Comunicação no Círculo de Arte e Recreio)